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A Faca de Dois Gumes
A Faca de Dois Gumes

A Faca de Dois Gumes - Fernando Sabino


Biografia


Sabino, Fernando (1923- ), romancista, contista e cronista brasileiro. Nasceu em

Belo Horizonte, Minas Gerais. Estreou com os contos Os grilos não cantam mais


(1941), mas popularizou-se, sobretudo, como cronista do dia-a-dia, equilibrando

elementos de humor e lirismo. Entre seus muitos títulos destacam-se O homem

nu (1960), O gato sou eu (1983), O grande mentecapto (1979), O menino no

espelho (1982), Zélia, uma paixão (1991). Seus textos estão coligidos em Obra

reunida (1996).


Em O encontro marcado (1956), Fernando Sabino escreveu o romance de sua

geração pós-segunda guerra, livro constantemente reeditado: "Sim, acreditava

em Deus, mas um Deus longínquo, esquecido, distraído, voltado para outras

preocupações, que não o seu mesquinho problema de aprender a viver."


Grupo Mineiro


Esta denominação de Grupo mineiro foi cunhada à época do modernis mo para

distinguir o grupo liderado por Carlos Drummond de Andrade e Martins de

Almeida, fundadores, em 1925, de A Revista, primeiro órgão modernista de Minas

Gerais. Dela foram redatores Emílio Moura e Gregoriano Canedo. E do grupo

também fizeram parte jovens escritores, cuja atuação e renome cresceriam,

alinhando-os entre os bons escritores nacionais: João Alphonsus, Abgar Renault e

Pedro Nava.


Na década de 1950, surgiu e cresceu em Belo Horizonte outro grupo de mineiros

que, a partir de uma comunhão inicial de idéias, diversificou seus caminhos, tendo,

todos eles, obtido projeção dentro dos gêneros literários es colhidos. São eles Hélio

Pellegrino, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino _ autor enfocado neste

trabalho, Fábio Lucas, Otto Lara Resende, Affonso Ávila e Sábato Magaldi - este


último, o primeiro crítico teatral a entrar para a Academia Brasileira de Letras.


Resumo


Enredo_ Síntese:


Cabível será esclarecer aqui que a obra A Faca de Dois Gumes de Sabino é uma


trilogia, e como tal entendido, sua leitura deveria ser feita na integralidade, pois ao

aluno somente será possível analisar a magnitude da obra face o estudo narrativo

que a compõe em todos os contos ; posto o anterior dito faremos sucinta análise

dos dois primeiros contos da obra e deteremo-nos mais atentamente ao último,

este sim escolhido para as provas ves tibulares da Universidade Federal de Viçosa.


O BOM LADRÃO


Este conto possui como principal traço a similaridade com a obra D. Casmurro de

Machado de Assis, trata-se de uma revisitação dos personagens Bentinho e

Capitu, sendo respec tivamente identificáveis nos personagens Dimas e Isabel.

Esta é segura de si, e furtadora exímia de objetos; já aquele amedrontado pela

 

 

forte figura da mulher perde-se em um labirinto de devaneios para esclarecer a

desconfianças que tem da esposa. Incluso é o adultério presumido do narrador.


Este acaba até tentando furtar objetos para provar a si mesmo certa superioridade,

contudo nada consegue provar a si mesmo, à amada, nem mesmo a nós, leitores.


A insegurança de Dimas aumenta quando Isabel fica a encontrar-se demasia com

seu primo, a suspeita aumenta quando descobrimos o furto do livro O primo

Basílio, eis aí nova similaridade literária, brincadeira que Fernado Sabino utiliza de

modo constante.


Temos uma metalinguagem acontecendo durante todo o conto; em verdade é uma

apologia acerca das grandes referências literárias.


Dimas acaba por ser preso e afasta-se gradativamente da esposa, vindo a

envelhecer só, tal como o memorialista advogado Bento na obra de D. Casmurro.


A confusa narrativa é o principal aspecto a ser estudado na obra_ a narrativa em

1° pes soa confunde o leitor que está impossibilitado de saber a veracidade daquilo

que nos é contado. Nossa prova maior é o fim do conto que encerra a tese por nós

demonstrada:


"..O que me leva de volta ao enigma de Capitu. Vamos a ele."


MARTÍNI SECO


Eis aqui um conto ímpar em matéria de releitura por parte de Fernando Sabino dos

ditos contos policiais; a confusão e o xadrez formado pela narrativa, embaraçam

qualquer possibilidade de conclusão do leitor acerca dos crimes:


Temos uma mulher chamada Maria Miraglia ( segunda esposa de Amadeu Miraglia

) que apresenta-se ao comissário Serpa dizendo-se vítima de um ardil do marido.

Reclamava esta da tentativa de Amadeu de aniquilá-la tal como fizera com a outra.


Nosso suposto criminoso Amadeu tenta esclarecer, pos teriormente sua inocência

perante o delegado Serpa que tenta resolver o caso a todo modo. O álibi do

marido nov amente é o do suicídio da espos a querendo enlouquecê-lo. O xadrez

está formado novamente e, tanto o leitor quanto o delegado estão em cheque-

mate.


Ao termo de tal conto acontece um homicídio nos mesmos moldes:


"... Um homem e uma mulher entraram no bar, sentaram-se e pediram martini

seco. Enquanto o garçom os servia, ela foi ao telefone, ele foi ao toalete. Quando

regressaram, ao tomar a bebida, a mulher caiu fulminada..."


Na delegacia, um amedrontado Amadeu se vale do descuido do c omissário Serpa

e apanha-lhe a arma ameaçando os demais presentes, inclusos aí a sua própria

esposa. Do tiroteio que se segue, tombam mortos todos, exceto Amadeu que

desesperado vem a suicidar-se pulando do parapeito.

 

 

O telefone toca, toca insistente sem encontrar abrigo na lassidão do espaço

morticinado.


A FACA DE DOIS GUMES


Não adianta saber de quem é a culpa, se você não souber que é sua.


Aldo tolentino


Personagens principais:


Aldo Tolentino


 "E ali estava ele: Aldo Tolentino, 50

anos de idade, advogado, viúvo , um

filho do primeiro casamente, dois do

segundo, traído pela mulher com seu

amigo e colega de escritório,

escondido em sua própria casa..."


Dr. Marco Túlio.


 "mais baixo, mas desenvolto, bem

vestido, queimado de sol, aparência

esportiva"


Maria Lúcia


 fútil e infiel


Paulo Sérgio


 o filho de Aldo Tolentino acusado

injustamente de homicídio_ representa

o outro lado do gume (ferido)


Síntese - enredo


Aldo tenta vingar-se de sua adúltera esposa Maria Lúcia; para tanto furta a

identidade de um subalterno do escritório, forja uma viagem de negócios e

embarca para São Paulo a mando de seu chefe Marco Túlio.


Já em solo paulista noss o herói hospeda-se em um hotel, para que não haja

suspeitas e, discretamente evade-se do hotel direto para o Rio de Janeiro via

ponte-aérea com passaporte falso na volta.


Ao retornar sigilosamente para casa, promove um flagrante nos adúlteros,

aniquilando-os.


O crime perfeito ocorre e a vítima será o próprio Aldo Tolentino que vê o próprio

filho pagar por seu crime ao suicidar-se na cadeia. Paulo Sérgio chegara na

madrugada do crime em casa, lá encontrara os cadáveres e fora o princ ipal

suspeito do crime.


Estrutura da obra:


Desfragmentaçào da estrutura narrativa - o discurso em 3° pessoa é permeada de

psicologismo, e o fluxo de consciência é retomado o tempo todo por Aldo

Tolentino.


Estrutura textual:

 

 

A violênc ia das obras contemporâneas é recurso notório do retrato de nos so tempo

na literatura. A visão do desejo enquanto sexualidade e ódios urbanos se

confundem, veja exemplo:

 

"...Ao fim, ele a virrou de bruços e tombou sobre ela, possui-a com fúria:

 

_ Fale mais mulher. Fale mais, sua cadela, conte tudo sua puta ordinária - e ele

terminou, afinal, enquanto ela gemia de gozo sob seu corpo."

 

A coloquialidade do discurso é também outro fator que nos interessa, o

pessimismo é notório e o existencialismo acerca da vida, é c lara no final do conto:

 

"...O delegado informou que Paulo Sérgio havia se enforcado com a camiseta em

sua cela.

 

_Vou já para aí ( diss e Aldo Tolentino)

 

Em vez de sair, foi até a copa, ainda s onolento, apanhou o v idro no armário e

tomou todos os comprimidos. Depois voltou ao escritório, estendeu-se no sofá e

em pouco voltava a dormir.

 

Aspectos Relevantes

 

Tendências Contemporâneas

 

O experimentalismo estético da Semana de 22 gera uma ideologia com a qual

foram reexaminados os problemas da cultura, como qualidade e tradição. O

interesse pela vida contemporânea norteou Josué de Castro, Caio Prado Júnior,

Jorge Amado e Jorge de Lima. O Estado Novo (1937-1945) e a Segunda Guerra

Mundial aguçaram as tensões no plano das idéias e novas configurações

históricas geraram novas experiências nas artes, principalmente na literatura. A

produção dos autores da primeira metade do noss o séc ulo deixa transparec er

angústias e projetos inéditos nos trabalhos de poetas, narradores e ensaístas. Na

poesia, a geração de 45 isolou os cuidados métricos, procurando se contrapor à

 

literatura de 22, menosprezando as conquistas do modernismo.

 

No panorama da nova poesia brasileira, Fernando Ferreira de Loanda insiste na

afirmação da diferença e na busca de novos caminhos. É a posição de Alphonsus

Guimarães Filho, Péricles Eugenio da Silva Ramos, João Cabral de Melo Neto,

Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Lêdo Iv o, entre outros. Todos defendem

um gênero intimista onde imagens são correlatas ao sentimento que os símbolos

ocultam e sugerem. Submetem-se às exigências técnicas e formalizantes.

 

No romance psicológico caminha-se pela introspecção da psicanálise.

 

Socialis mo, freudismo, catolicismo são usados para a compreensão do homem

social.

 

Esteja sempre atento para a leitura de obras contemporâneas, pois o que

melhor interessa-nos é a sua estrutura narrativa, condensadora e atrativa

para o leitor contemporâneo de tantas imagens do mundo digital.