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A MORTE E A MORTE DE QUINCAS B
A MORTE E A MORTE DE QUINCAS B

A Ilustre Casa de Ramires - Eça de Queirós


A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D'ÁGUA

Jorge Amado "Um baiano romântico e sensual"


Autor dos mais respeitados na literatura brasileira, desde os anos trinta,


Jorge Amado tem pontificado e feito sucesso de crítica e de público. Sua obra

explora os mais diferentes aspectos da vida baiana: a posse violenta da terra,

com as conseqüências sociais terríveis, como ocorreu na colonização da zona

cacaueira do Sul da Bahia, está magistralmente imortalizada em Cacau, São Jorge

de Ilhéus, Gabriela, Cravo e Canela e Terras do Sem Fim. Os tipos folclóricos

das ladeiras de Salvador estão presentes em Tenda dos Milagres, Capitães da

Areia, Mar Morto. A literatura engajada, comprometida com a ideologia política

do Autor faz-se presente em Os Subterrâneos da Liberdade, O Cavaleiro da

Esperança. Os perfis de mulheres extraordinárias que comovem e seduzem estão em

Tieta do Agreste, Dona Flor e seus Dois Maridos, Gabriela e muitos outros...


Primeiro é preciso que se tenha em mente o "descompromisso" do Autor com o


registro formal culto, para se entender melhor o comentário que se faz

constantemente sobre seu "estilo". Jorge Amado já se autoproclamou "um baiano

romântico e sensual". É o que a crítica costuma rotular de contador de estórias.

Não segue, intencionalmente, o rigor da técnica de construção literária e nem dá


a mínima para as normas gramaticais e ortográficas. Incorpora, com a maior

naturalidade, à língua escrita, termos e expressões típicas da língua oral e de

sua Bahia idolatrada. Não espere o leitor, portanto, defrontar-se com um texto

primoroso, regular, pausterizado. Entretanto, quem se aventurar nos meandros de

suas páginas, esteja preparado para o deguste de um texto saboroso e suculento

que transpira a trópico, a calor, a vida. Suas histórias são tramadas sobre o

povo simples e rude, numa língua que esse povo fala e entende.


O texto que serve de suporte a este estudo centra-se na fixação dos tipos


marginalizados para, por intermédio deles, analisar e criticar toda a sociedade.

A ação dá-se, basicamente, em Salvador e gira em torno da boêmia desqualificada

das cercanias do cais do porto.


A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água é uma das melhores narrativas


publicadas por Jorge Amado. Veio a lume em 1958 e conquistou desde logo a

admiração de quantos dela se aproximaram. Nitidamente imbricada no Realismo

Mágico, mistura sonho e realidade; loucura e racionalidade; amor e desamor;

ternura e rancor, de forma envolvente e instigante:


Joaquim Soares da Cunha foi funcionário público, pai e marido exemplar até o


dia em que se aposentou do serviço público. A partir daí, jogou tudo para o

alto: família, respeitabilidade, conhecidos, amigos, tradição. Caiu na

malandragem, no alcoolismo, na jogatina. Trocou a vida familiar pela convivência

com as prostitutas, os bêbados, os marinheiros, os jogadores e pequenos

meliantes e contraventores da ralé de Salvador. Sua sede era saciada com cachaça

e seu descanso era no ombro acolhedor da prostituta. Fez-se respeitado e

admirado entre seus novos companheiros de infortúnio: era o paizinho, sábio e

conselheiro, sempre disposto a mais uma farra ou bebedeira.


Sua opção pela bandalha representa o grito terrível do homem dominado e


cerceado por preconceitos de toda sorte e que um dia rompe as amarras e grita

por liberdade.


Morreu solitariamente sobre uma enxerga imunda e sua morte detonou todo o


processo de reconhecimento/desconhecimento por parte da família real e da

família adotada. Os amigos durante o velório se embriagam e resolvem, bêbados,

levar o defunto para um último "giro" pelo baixo-mundo que habitavam. O passeio

passa pelos bordéis e botecos, terminando em um saveiro, onde há comida e

mulheres. Vem uma tempestade e o corpo de Quincas cai ao mar.

 

 

Ao renunciar à família, mudar de ambiente e de costumes, Quincas morreu pela

 

primeira vez; na solidão de seu quartinho imundo, envolvido por farrapos e

curtindo a última bebedeira, morreu pela segunda vez; ao cair ao mar, não

deixando qualquer testemunho físico de sua passagem pela vida, morreu pela

terceira vez. A narrativa poderia chamar-se A morte e a morte e a morte de

Quincas Berro D'Água, acrescentando-se uma morte ao protagonista, que ficaria

bem de acordo com a progressão da trama.